segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O que não era pra ser


Eu sempre achei que nada acontece por acaso. Hoje, mais do nunca. 

Mesmo que na maioria das vezes a gente não consiga ligar os pontos. 

Nem tudo é tão óbvio como aquela história do homem que vivia sozinho numa fazenda com um cavalo e um filho, e o cavalo fugiu. “Pode ser que sim, pode ser que não...”

Tudo ficaria mais fácil se, a um acontecimento inesperado, bom ou mau, se sucedesse outro, que justificasse o primeiro. O cavalo fugiu mas voltou trazendo uma dúzia de cavalos selvagens, transformando um acontecimento infausto, a fuga, numa benção divina.

Mas não é assim, não é mesmo?

Essa minha crença de que nada acontece por acaso vem, na verdade, de uma frase da minha mãe, sempre que alguma coisa que eu queria muito não acontecia: “não era pra ser...”, dizia ela. 

Quando criança, a frase me irritava profundamente. 

Como, assim, não era pra ser? Quem disse? Quem sabia melhor do que eu o que era bom pra mim naquele momento? 

Coisas de criança, claro. Como toda criança, eu era profundamente egoísta...

Com o tempo, o passar dos anos, as alegrias e frustrações da vida, fui aprendendo que o que minha mãe dizia não era uma desculpa conformista. Ao contrário. O que ela queria dizer, na sua amorosa simplicidade, era para esquecer aquilo, “não era pra ser”, e correr atrás da vida, das coisas que a vida ainda reservava pra mim, e que “eram pra ser...”.

Essa incerteza, do que é ou não é pra ser, é que faz a gente viver, buscar o que a gente acha que é pra ser, mesmo que não seja pra ser. No fundo, acho eu, não existe nada mais emocionante e motivador do que a incerteza. 

E nada mais gratificante do que descobrir que aquilo que não era pra ser não só não nos faz falta, mas nos leva a buscar, e encontrar, o que realmente interessa...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013







A Teoria do Privilégio

O que é a felicidade? Dá pra ser feliz o tempo todo? É uma escolha? Pode ser comprada?
Afinal, o que é ser feliz?
Não, não espero que você responda, meu amigo, minha amiga. Nem eu tenho a pretensão de respondê-las. Mas tenho reflexões sobre elas, as perguntas aí de cima, que sempre fizeram parte da minha vida, desde que me considero um ser pensante. E essas reflexões me levaram a formular uma teoria que gostaria de dividir com vocês. Desculpem se soa pretencioso. Não é. Não pretendo estabelecer uma corrente de pensamento. Nem desenvolver uma nova filosofia de autoajuda.
Na verdade, a minha teoria está baseada na resposta a uma das perguntas acima: a felicidade é uma escolha? Você diz: “ah, daqui pra frente vou ser feliz” e pronto? Acho que não é tão simples, não é mesmo? Mas, e se a gente antes de fazer a escolha parar um pouquinho para definir melhor o que nos faz feliz. Os bens materiais, que o dinheiro pode comprar? A companhia da pessoa amada? Os amigos? Os filhos?
Vamos complicar um pouco: um dia de sol, céu azul, no mar, na montanha, no parque, só ou acompanhado, isso é ser feliz? Ou um dia qualquer, de sol ou de chuva, fazendo o que você gosta, só ou acompanhado. Dá pra escolher esse momento? Se você respondeu afirmativamente, então estamos começando a chegar ao ponto em que entra a minha teoria do privilégio, assim, em letras minúsculas mesmo.
Pois eu acho que esse pode ser um MOMENTO de felicidade. Você deve estar pensando “lá vem ele com aquela tese de que a felicidade é feita de momentos…” Eu diria que é quase isso, mas não é só isso. Porque, se você não se dá conta desse momento, você não vive essa felicidade. E é aí que entra a teoria do privilégio.
É assim: poder aproveitar um dia de sol e céu azul, no mar, na montanha ou no parque, só ou acompanhado, é um privilégio. Assim como assistir a um filme que te encante é um privilégio. Ou comer um sanduiche que você fez com gosto, tomando uma taça de vinho, num domingo à noite, ouvindo música ou lendo um livro, ou até mesmo vendo televisão. E tantas outras coisas que estão aí, ao nosso alcance. E que passam sem que percebamos. E sem que aproveitemos ao máximo esse momento por absoluta distração.
É disso que pretende tratar este blog.
De momentos que podem ser um privilégio, e te dar aquela sensação de felicidade, que a gente gosta de lembrar, ou passar despercebidos, sem acrescentar nada na tua vida.
Pretende falar das coisas simples da vida. Porque simplicidade não é humildade. Simplicidade não é carência. Simplicidade não é abstinência. Simplicidade é, principalmente, viver a vida. Sem subterfúgios, sem máscaras, sem ressalvas. Simplicidade é aproveitar as coisas boas, simples, que a vida nos dá, evitar as coisas más e, quando não der pra evitar, pelo menos aprender com elas. Simplicidade é uma escolha. Que quem entende o privilégio da vida com certeza não tem dificuldade em fazer. 
Aliás, já podemos começar com um privilégio que todos temos: o de estar vivos. E este já é um grande começo.